Certa vez, o Mestre e o seu Aprendiz partiram em viagem de conhecimentos. Caminharam, caminharam, caminharam... Até que, no meio de um bosque, numa chopana, encontraram um pequeno casebre. Esse casebre era muito pobre, o caminho era sem flores nem plantas, a terra muito seca, a casa feita de madeira mas já podre e cheia de frestas. Mesmo assim, o cansaço chamou bem alto e eles decidiram pedir abrigo para passar a noite.
Bateram na frágil porta e um senhor abriu-lhes a porta. Convidou-os logo a entrar. Naquela pequena e pobre casa vivia uma família muito humilde, um casal e os seus dois filhos. Partilharam com eles o seu caldo escasso em legumes e o seu pedaço de pão. Mas, contudo, eram felizes.
O Aprendiz intrigado com aquela situação perguntou:
- Peço desculpa, mas quando aqui chegámos demos-nos conta de que a vossa terra era seca e não era cultivada, como é que vocês sobrevivem?
A pobre mulher respondeu sorridente:
- Ah, sabe, nós temos, ali, atrás da casa, no curral, uma vaquinha. Dela retiramos o leite. Com ele fazemos o queijo que vamos depois, na vila, trocar por outros produtos.
O Mestre e o Aprendiz sorriram e foram dormir. Apesar de não terem uma cama para lhes oferecer, pois dormiam no chão, ofereceram-lhes o seu melhor cobertor (um pouco rasgado pelo uso, assim como as roupas de todos). De manhã, agradeceram e despediram-se da família. A mulher, antes de partirem, ainda lhes deu um pedaço de pão para a caminhada. Sorriram e partiram.
Depois de caminharem algum tempo em silêncio, o Mestre disse ao Aprendiz:
- Esta noite, voltas outra vez ao casebre e matas a vaquinha!
- Mas Mestre, não posso, aquele é o único sustento daquela família!Sem ela eles morrerão!
O Mestre fitou com aquele olhar de quem confia na sua sabedoria!
Nessa noite o Aprendiz fez o que o Mestre lhe propÔs. Chegou ao casebre, conduziu a vaquinha até ao precipício e, depois de muito hesitar, atirou-a precipíco abaixo.
Passados alguns anos, o jovem Aprendiz que fora outrora, numa das suas viagens decidiu visitar aquela família, nunca a esquecera. Quando chegou à chopana, encontrou um grande jardim florido e uma enorme casa de tijolo, toda branquinha, cheia de flores nas janelas... Pensou logo que aquela humilde família teria vendido o seu terreno para seu sustento. Mas, apesar disso decidiu bater à porta. Uma linda criança, bem vestida, calçada e com um brinquedo na mão abriu-lhe a porta. Este perguntou.lh:
- Olha, podes-me chamar os teus pais?
Ao dizer isto surge, na sua frente, um casal igualmente bem vestido que quando o viu reconheceu-o logo e este a eles. Afinal era a família de outrora! Convidaram-no logo a entrar e a conhecer a sua enorme e luxuosa casa. Quase a rebentar de curiosidade o Aprendiz perguntou:
- Mas como é que tudo isto aconteceu?
- Sabe – respondeu o homem – na noite seguinte a vocês terem partido alguém matou a nossa vaquinha, o nosso sustento. Como não podiamos ficar de braços cruzados e vermos nossa família a ser destruída pela fome, arregassámos as mangas e aprendemos, por nós próprios, a cultivar a nossa terra e a retirar dela o nosso sustento.
O Aprendiz sentiu o seu coração masi aliviado e feliz, por ter seguido o conselho do seu Mestre.
Por isso, já sabes o que fazer: descobre a tua vauinha e ... deita pelo precipício abaixo!
(Nunca pesques para alguém, antes ensina-lhe a pescar!)